Se você esteve em coma ou em órbita nos ultimos meses, pode não saber o que está rolando nos Estados Unidos às vésperas da eleição para presidente. O dia de
votação é a próxima terça-feira, 6 de novembro. Esta eleição promete ser uma
das mais apertadas da história e tudo leva a crer que o resultado será surpreendente.
Um cenário bem provável é o candidato republicano Mitt Romney vencendo no voto
popular, mas o presidente Barack Obama sendo eleito por conseguir mais números
no colégio eleitoral.
A eleição não é
definida pelo maior número de votos populares, como no Brasil. Cada um dos 50
estados tem um determinado número de votos no colégio eleitoral. Os mais
populosos têm mais votos: Califórnia com 55, Texas com 38, New York com 29,
Florida com 29, e assim por diante, até os menos populosos, como Montana, com
apenas 3. O candidato que tiver mais votos populares em um estado leva todos os
votos do colégio eleitoral, mesmo se tiver apenas um voto a mais que o outo
naquele estado. Quem atingir 270 está eleito.
Os democratas
tradicionalmente vencem na Califórnia e New York, mas os republicanos têm
supremacia em estados do sul, como o Texas. Com isso, a maior parte da votação é
um jogo de cartas marcadas. Cada um sabe mais ou menos quais estados vai levar.
Alabama sempre será republicano, assim como Oregon sempre será democrata.
A eleição neste ponto
depende de alguns estados que não têm um lado definido, que mudaram de
republicano para democrata ou vice-versa em eleições recentes. São os chamados swing
states. É nesses estados que Obama e Romney estão concentrando comícios, anúncios
na TV e esforços de voluntários. Afinal de contas, ganhar os 18 votos de Ohio
ou os 20 da Pennsylvania pode selar a eleição.
As últimas pesquisas
apontam Romney ligeiramente na frente de Obama no cenário nacional. Isso indica
que ele pode vencer no voto popular. Mas Obama tem garantido alguns dos estados
com maior número de votos no colégio eleitoral, como a Califórnia, New York,
Illinois e Michigan. Ele também lidera as pesquisas nos principais swing
states, como Ohio e Pennsylvania. Por isso, o presidente está mais perto do mágico
número 270 do que Romney.
Propostas
A crise de setembro de
2008 explodiu nos EUA e causou estragos imensos no mercado imobiliário e na
geração de empregos. Obama foi eleito em um momento de ira nacional em relação à
gestão republicana de George W. Bush. Primeiro presidente negro, ele pregava a
mudança e a esperança. As pessoas esperavam uma presidência histórica, como a
de Abraham Lincoln ou Franklin Roosevelt, que superaram grandes crises
nacionais.
Obama queimou todo seu
capital político em uma questão que dividiu o país: a universalização do serviço
de saúde. Milhões não tinham acesso a plano de saúde e os democratas lutavam
por isso há décadas. Bem ou mal, agora pessoas mais carentes terão mais
facilidade para ter cobertura médica. Mas a batalha custou caro ao presidente.
O Congresso se tornou mais radical, boa parte da população considera o
Obamacare (como o plano ficou conhecido) uma imposição e diversos estados
tentam reverter o resultado na Justiça.
Enquanto isso, os
resultados na geração de empregos não foram impressionantes. O presidente
conseguiu um pacote de estímulo do tamanho do PIB da Argentina para impulsionar
a economia e injetou dinheiro em grandes indústrias automobilísticas para
salvar empresas. Mas a taxa de desemprego ficou acima dos 8% na maior parte da
gestão de Obama. A China desacelerou seu crescimento e a Europa enfrenta sua
maior crise desde a criação do euro, com efeitos desastrosos na economia
americana.
A proposta do
presidente é continuar estimulando a economia via governo. Ele afirma que suas
políticas não tiveram tempo para surtir efeitos e que quatro anos é muito pouco
para arrumar a bagunça causada pela crise de 2008. Mas a maior parte das
pessoas quer culpar alguém pelo emprego perdido ou pelos negócios mornos. E então
viram os olhos para o homem sentado no Salão Oval.
Esta ladainha é
basicamente a campanha inteira de Mitt Romney. Ele repete que o presidente
falhou, que suas políticas atrapalharam mais do que ajudaram e que os EUA
poderiam estar bem melhores se o governo tivesse deixado as coisas acontecer
sem sua intervenção.
Multimilionário do
mercado de capitais, Romney afirma saber como gerir grandes somas de dinheiro e
que economia é o negócio dele. Mas até o momento, seu plano de governo é vago,
sem pontos específicos e como temas preocupantes, como a promessa de declarar
guerra comercial à China no primeiro dia do mandato.
Depois de meses,
Romney continua sendo uma figura sem carisma, basicamente atraindo os votos de
que não quer que Obama vença. Em uma declaração infeliz, sem saber que estava
sendo filmado, Romney afirmou que 47% dos americanos não pagam impostos,
dependem do governo, gostam de se fazer de vítima e que ele não está preocupado
com essa gente.
O presidente Obama se
concentrou em pintar Romney como um capitalista inescrupuloso, distante da
classe média e sem a sensibilidade necessária para gerir os EUA.
Ninguém pode prever
com segurança quem será eleito na próxima semana. O resultado será definido em
detalhes, em estados que nem sempre aparecem no noticiário e por pessoas que
depois de tanta confusão e reviravolta, continuam indecisas.